Junho 14, 2025

Minuto da consciência crítica: O terceiro mandato de Lula à luz do conceito de correlação de forças de Gramsci Destaque

 

O terceiro mandato de Lula à luz do conceito de correlação de forças de Gramsci.

O conceito de correlação de forças desenvolvido por Antonio Gramsci em seus Cadernos do Cárcere (1926-1937) refere-se ao equilíbrio entre as pressões sociais e políticas em uma determinada sociedade, que determina as possibilidades de avanço de determinados projetos políticos ou resistência a ele.

Segundo Gramsci, essa correlação não é estática, sendo resultado de um constante jogo de alianças, negociações e enfrentamentos, no qual a hegemonia de uma classe ou grupo é constantemente desafiada e contestada pelas forças opostas.

No contexto político atual, isso se traduz na capacidade de um governo implementar mudanças em face de uma oposição interna e externa, sendo crucial para o sucesso de políticas transformadoras a habilidade de fortalecer a posição política e social do governo através de alianças e consensos.

No Brasil, o terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta uma correlação de forças complexa, na qual são feitas constantes concessões ao Congresso conservador especialmente ao Centrão, além de lidar com uma oposição exacerbada da extrema direita, o que limita a capacidade de implementar mudanças estruturais.

A estratégia de Lula tem sido buscar equilíbrio e estabilidade, apostando na moderação e no diálogo para garantir a governabilidade, o que implica uma forma de pragmatismo na política interna.

Ou seja, o não enfrentamento devido à falta de correlação de forças.

Mas isso deve ser assim?

O argumento de que "não há correlação de forças" suficiente para um enfrentamento mais incisivo pode ser visto como uma análise realista da conjuntura, mas também pode indicar uma falta de disposição para mobilizar bases populares e tensionar o sistema político em favor de mudanças estruturais.

Ao priorizar uma hipotética estabilidade e o diálogo, o governo corre o risco de ceder demais à oposição e aos setores de influência, esvaziando seu próprio programa progressista.

Historicamente, momentos de transformação significativa no Brasil, como as reformas trabalhistas da Era Vargas ou as conquistas sociais dos anos 2000 - não aconteceram apenas por meio da negociação com o Congresso mas também pela pressão popular e pelo uso estratégico da força política do Executivo.

Se Lula evita o confronto por acreditar que não há margem para enfrentamento, essa própria crença pode reforçar a inércia e impedir mudanças mais profundas.

A questão central, então, é: sera que o governo realmente não tem alternativa ao pragmatismo imediatista, ou está evitando testar seus próprios limites políticos?

É possível ampliar essa correlação de forças com mobilização popular e articulação mais firme, ou a escolha pelo equilíbrio e pelo diálogo é, na verdade, uma opção consciente que relega mudanças estruturais para um futuro incerto?

Lula, em seus primeiros mandatos (2003-2011), adotou uma estratégia semelhante, de moderação e conciliação.

Naquele contexto, contudo, a direita tradicional ainda não estava tão radicalizada e o bolsonarismo não existia como fenômeno político.

Hoje, a dinâmica é diferente, e um governo que busca a todo custo evitar o conflito pode acabar refém das pressões conservadoras.

Por outro lado, líderes latino-americanos como Gustavo Petro, na Colômbia, e Claudia Sheinbaum no México, adotam posturas mais assertivas e confrontam diretamente a oposição, muitas vezes com posições mais rígidas frente às potências externas, como os Estados Unidos.

Essas atitudes revelam que, em contextos distintos, as correlações de forças podem permitir estratégias mais firmes de enfrentamento, sem necessariamente comprometer a estabilidade interna.

Claudia Sheinbaum se contrapôs diretamente às ameaças de Donald Trump de impor tarifas sobre exportações mexicanas.

Em resposta, Sheinbaum adotou uma postura firme, convocando uma mobilização nacional contra a interferência dos EUA e declarando que "uma tarifa será seguida por outra em resposta", rejeitando as ameaças do republicano.

Sua resposta enérgica conquistou apoio popular e a fortaleceu internamente como uma líder independente.

Além disso, Sheinbaum manteve uma abordagem diplomática, enfatizando a importância do diálogo e do respeito mútuo entre as nações, o que resultou na suspensão temporária das tarifas e em uma manifestação de unidade nacional no Zócalo, a praça central da Cidade do México, com a participação de dezenas de milhares de pessoas.

………..

● Fonte ●

Página no Instagram da editora Boitempo.

Autor: Bruno Fabricio Alcebino da Silva.

Avalie este item
(0 votos)
Última modificação em Segunda, 02 Junho 2025 12:59
Você considera importante a participação dos servidores na revisão do PCCS?